Ainda que eu escreva mil vezes sobre o mesmo tema, nunca será o suficiente. Simplesmente não consigo aceitar a devastação ambiental, o quanto que muitas pessoas parecem ter verdadeiro ódio das árvores. Embora acredite que não seja privilégio da cidade de São Paulo, onde vivo, aqui, em especial, isso salta aos olhos.
A sanha das construtoras é algo sem precedentes. Casas e lojas são derrubadas para construção de prédios imensos, que mudam a paisagem e encobrem o céu. Mas o pior, porém, são os quintais e suas árvores, que se vão junto, sem qualquer responsabilidade ambiental. Morada e alimento de pássaros, insetos, pequenos roedores, tudo vai ao chão em nome de uma corrida por quem destrói mais rápido. Seringueiras centenárias se despedem, em silêncio, da paisagem urbana, sem que seja possível defendê-las em um país onde o dinheiro e o poder ditam as regras. E pouquíssimas pessoas parecem se importar, ou mesmo lamentar.
A pegada humana pelas ruas de São Paulo, quase sempre é marcada pelos tocos de árvores, largados nas calçadas, verdadeiras lápides da natureza, sem que sequer se plante outras mudas no lugar. Triste demais, ao menos para aqueles que se importam, que sabem o quanto cada árvore a menos condena o futuro da humanidade e do planeta.
Mas, apesar disso tudo, algumas pessoas ainda fazem diferença e nos não esperança de dias melhores e é observando-as e aos seus atos, que encontro forças para prosseguir acreditando. Uma dessas pessoas é um senhor, cujo nome desconheço, muito humilde, morador de uma comunidade próxima de casa. De chinelos, ele anda pelo plantando diariamente, plantando e cuidando de novas árvores. Em geral, são mudas pequenas, que ele cultiva a partir de sementes. Anônimo, mesmo quando as pisoteiam, arrancam, ele prossegue na toada daqueles que cumprem um propósito.
Aqui no meu bairro, ainda, descobri um cantinho, um canteiro no meio de uma rua, onde tomates crescem vicejantes, ao lado de maracujazeiros, mangueiras e plantas ornamentais. Tudo muito bem cuidado pelo vigia de uma casa, saudoso da infância e dos quintais nos quais cresceu. Parei para agradecê-lo e soube da história de uma vida, repleta de dificuldades, perdas, mas de amor pela natureza.
Outro caso é do Sr. Durval, de Araras, que talvez até leia este texto, cujo trabalho incansável e contínuo, tem transformado muitos cenários da cidade. Acompanho-o pelas redes sociais, comemorando o capricho, o cuidado e a sabedoria com que ele segue plantando frutíferas e não frutíferas, recuperando espaços verdes, provendo alimentos para os pássaros, pequenos mamíferos e polinizadores em geral. Admiro muito o que ele faz, mesmo que, talvez, não tenha a visibilidade e o reconhecimento que merece.
Ainda em São Paulo há o caso de Hélio da Silva, um homem que plantou sozinho, mais de 40 mil árvores, dando vida a um parque linear, o Parque Tiquara, que hoje se estende por mais de três quilômetros, onde antes havia degradação e lixo, próxima ao córrego de mesmo nome. Plantando árvores nativas da Mata Atlântica, seu Hélio fez o impensável, o improvável.
E assim como os exemplos acima, há outros tantos, sozinhos ou em grupos, alheios e apesar da destruição de outros tantos, que seguem fazendo não só a parte que lhe é possível, mas o que parecia impossível. Como não admirar pessoas e iniciativas assim? No pouco, porém, já podemos contribuir para um mundo melhor. Se não possível semear uma floresta, não seja aquele que derruba uma árvore, que pisoteia uma muda, que fecha os olhos para a devastação.
Que o Criador permita vida longa aos defensores do verde, anônimos ou famosos, abençoados pela luta em prol de um mundo menos cinza e indiferente. Fico aqui imaginando, por um instante, do que seríamos capazes se uníssemos esforços em prol do bem comum...