A senhora tem preferência por algum lado? - perguntou-me a moça, olhando para os meus braços.
Com as mangas da blusa arregaçadas, sentada na cadeira de plástico, eu tiritava e não era somente pelo frio de dez graus que fazia naquele começo de manhã. A verdade é que tenho pavor de agulha. Das que furam, é claro. Das que tecem, costuram e bordam, estou sempre cercada.
Depois de mais de oito horas de jejum, eu havia saído de casa sem tomar meu sacrossanto café da manhã, para fazer exames clínicos de rotina. Admito que faço isso porque entendo a importância e por prezar minha saúde, mas não tenho a menor simpatia por ambientes hospitalares e similares, ainda mais com fome.
_ Tenho preferência pelo braço que você conseguir furar de primeira – respondi, tentando sorrir, depois de explicar o quanto odeio tirar sangue.
_ Mas a senhora passa mal, desmaia? – indagou-me, com cara de compreensiva, mas, acredito, já antevendo uma manhã com problemas.
Depois de tranquilizá-la, jurando que nunca sequer desmaiei, só implorei para que ela fosse certeira. Experiências anteriores, com muitos furos antes de acertarem uma veia, haviam me deixado ressabiada.
Nem sei como, em determinado momento da minha vida, cogitei ser médica. Tudo bem que seria, eventualmente, eu a furar os outros e não o inverso, mas a realidade é que não gosto nem mesmo do cheiro de estabelecimentos de saúde. Nem imagino como teria sido a faculdade, os estágios, etc... Prefiro, como toda certeza, o papel, as telas de computador, as câmeras e microfones dos estúdio.
Para aplacar meu nervosismo, desandei a falar, mantendo meu rosto virado para o lado oposto àquele onde a agulha já mirava meu braço direito, o escolhido pela enfermeira. Para minha sorte, ela era ótima e, mesmo sentindo a picada, foi de primeira. Suportei bravamente, o tanto quando minha dignidade me impunha. Só verifiquei que, apesar de quase amarelar, meu sangue estava bem vermelho.
_ Pronto, querida, acabou. Só segura esse algodão aqui e confere, nestas etiquetas, se os seus dados estão corretos – disse-me ela, com um sorriso, ao me entregar etiquetas com letras minúsculas.
_ Ah que ótimo. Foi rapidinho, né? Sim, tudo certo com meus dados, obrigada!
Vesti-me o mais rápido que pude, para ir embora o quanto antes, na esperança sincera de que os dados estivessem, de fato, corretos, eis que, sem meus óculos, nada vi além de risquinhos. Se trocarem os exames, ao menos que seja por alguém com saúde em dia, porque eu, agora, com sorte e fé, só volto lá em agosto de 2026.