Como já afirmou Tom Jobim, o Brasil não é para amadores, para principiantes. Todos os dias há ou um escândalo novo ou uma nova treta entre políticos de boca grande, insensata e/ou de moral duvidosa. Complicado ler as notícias diárias, eis que quase nunca há espaço para os outros aspectos da vida. Houve um tempo, inclusive, em que, decidida a me tornar alheia a tudo isso, a esse mundo de interesses próprios e jogo sem regras definidas, decidi nada mais ler a respeito. Por uma ironia do destino, entretanto, naqueles caminhos que trilhamos sem planejar, vejo-me atualmente na necessidade de me aprofundar e de (tentar) entender o contexto econômico e político, nacional e internacional.
E quanto mais eu leio, escuto, estudo, mais me convenço de que as boas intenções, as lutas em prol do bem comum, são raridades, qualidade de pouquíssimos representantes da coisa publica que, de pública, quase nada tem, tamanha a apropriação que se normalizou fazer do alheio. Claro que há exceções, mas acabam se concentrando no micro, naqueles espaços menos cobiçados pela ganância, pela sanha pelo enriquecimento fácil, apadrinhado e sem vergonha na cara. Outros, ainda, imbuídos de boas propostas, recusando-se a fazer parte de esquemas duvidosos, sequer têm a chance de galgar cargos ou de realizar o que importa para a população. A todos esses, àqueles para os quais a moral, a honra e a honestidade ainda estão no cardápio, meus respeitos e admiração.
Atualmente, o brasileiro que ainda não desistiu de acompanhar o desenrolar da vida política, vive sem saber para qual tiroteio direcionar sua atenção. No ringue entre Trump e Lula, nenhum nocaute será surpresa, mas os cães ainda rosnam e a rinha abominável parece que se estenderá, para azar de todos. Os idosos que foram lesados no já quase esquecido escândalo do INSS, terão que entrar na fila das lembranças, eclipsados pelas novidades diárias. A ameaça da terceira guerra mundial, por essa semana, pelo menos, já está em banho maria. E quem morreu, morreu. E quem morrer, morrerá. Tudo simples assim, embora não devesse.
Em meio à queda de braço entre Legislativo e Executivo, ainda há o Judiciário. E eu, que não sou louca, não totalmente, nem tenho espaço de texto e nem imunidade para escrever tudo o que me ocorre, exceto que algo está muito errado quando os Poderes estão em pé de guerra. Está tudo “coisado”, como se diz. Estados Unidos e Europa dando o recado de que não querem mais receber estrangeiros, em atitudes duvidosas e até pouco humanitárias, em alguns casos. Nós contra eles. Quem são eles? Quem somos nós?
Eu não sei você, caro leitor, mas quase nada mais me espanta. No Brasil, ex-presidiário vira Presidente e ex-Presidente está prestes, ao que tudo indica, a virar presidiário. Batom é mais letal do que bala perdida e fazer rir pode também fazer chorar. E pensar que nem estamos, oficialmente, em ano eleitoral. Já me causa ânsias pensar em 2026, ano propício para perder amigos, sair de grupos de WhatsApp, desfazer amizades nas redes sociais, lamentavelmente. Onde o radicalismo e o fanatismo imperam, seja para esquerda ou para direita, para cima ou para baixo, o bom senso faz as malas e se retira.
E as amenidades, título do texto? Não as encontrei nas páginas dos jornais, infelizmente. Mas existem e compõem nossa vida cotidiana, que insiste e resiste, mesmo diante do que não podemos controlar. Enquanto escrevo, uma de minhas gatas está no meu colo, entretida com um fio que escapou de minha blusa. Ali está o mundo, reduzido a um fio azul, alheio à trama da tola tragédia humana. E é o que nos resta, encontrar, cada qual, um fio que nos deixe a salvo, que nos conduza de volta ao que realmente importa, ao que é verdadeiro e compõe nossos dias privados, longe das arenas dos gladiadores. Melhor ser plateia do que ser atração, jogados aos leões. Principalmente se for o do Fisco.