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bobbie

Quem disse que não é possível inventar a partir do que já existe e, ainda, ter sucesso financeiro com uma reinvenção, por certo não ouvir dizer dos atuais queridinhos livros de colorir do momento, o tal “Bobbie Goods”. Os livrinhos para colorir, criados por uma ilustradora cujo apelido é “Bobbie”, protagonizado por bichinhos como cães, gatos, ursinhos e outros, colocados em cenários humanos, virou uma febre e, mais do que isso, já vendeu, só no Brasil, em pouco mais de quatro meses, mais de um milhão de exemplares.

Os livros para colorir sempre existiram e acredito que não haja um só adulto que não tenha se deparado com um deles na infância. Assim, em princípio, não há novidade no conceito. Há alguns anos foram lançados livros para adultos colorirem, com os mais variados motivos. O material mais usado, à época, eram os lápis de cor. Como sempre gostei de pintar, recebi um de presente, mas nunca pintei mais do que duas ou três páginas, porque, com lápis de cor, técnica que adoro, tudo demora muito.

Recordo-me de que, à época, virou modinha também, mas acredito que os “Bobbie Goods”, ou Produtos da Bobbie, numa tradução livre, superaram em vendas e popularidade. Um dos fatores, creio, é a divulgação nas redes sociais, onde não faltam pessoas pintando e mostrando como transformar as cenas incolores em verdadeiras obras de arte. E não estou exagerando, não.

Outros pontos, ainda, contam em favor dos “Bobbie Goods”: os livros são direcionados a um público muito mais amplo, agora para pessoas de todas as idades, mesmo em se tratando de motivos infantis. Crianças e adultos dividem não somente o gosto pela pintura, mas ainda os materiais utilizados para pintar.

E é exatamente esse um dos pontos que favorecem os tais livrinhos. Embora possam ser pintados com qualquer material, inclusive com lápis de cor, a proposta inicial e a que se espalhou como vento, é que sejam pintados com marcadores, também conhecidas como canetinhas. E uma coisa levou à outra: caixas com centenas de cores diferentes, com formatos distintos, com brilho, com glitter, perfumadas, canetinhas para todos os gostos e bolsos, vendidas em todo e qualquer lugar.

A vantagem é que pintar com canetinha hidrográfica, em princípio, é mais simples e mais rápido. Eu, ao menos, ao invés de me desestressar pintando as cenas repletas de detalhes dos livros para adultos pintarem, ficava era sem paciência de dar conta das mil folhinhas, riscos e bolinhas. Além disso, o papel e o formato dos livros não incentivam ou favoreciam bons resultados aos neófitos.

Os tais livrinhos da Bobbie, uma visionária, registre-se, trouxe um fôlego inédito para esse tipo de entretenimento e, acredito, encheu os bolsos da artista de dinheiro. Creio que em pouco tempo outros produtos virão, pegando carona no sucesso, como desenhos animados e até filmes. Só acho.

E de tanto assistir e ouvir falar sobre, acabei me rendendo e comprando um para experimentar. Inegável que são muito bem-feitos, seja no material, seja no que se propõe. Claro que eu quis canetinhas para fazer as coisas direito, muito embora, ao ver como uma galera tem colorido as cenas, eu tenha me sentido na primeira série primária, mal dando conta de pintar dentro do contorno, mas sigo tentando enquanto me divirto.

O que mais me chamou atenção em tudo isso, porém, é que sempre é possível encontrar um nicho, criar uma novidade onde tudo já se presumia criado. Não sei se é sorte, se é a centelha da criatividade ou tudo isso misturado, mas gosto de pensar nisso, nessa possibilidade da recriação, da reinvenção.

Em mundo que se torna cada dia mais beligerante, intolerante, no qual a política vira tudo de cabeça para baixo, creio que vale a pena separar algum tempo para colorir a vida, do jeito que se for capaz de fazer.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e conclui que não sabe pintar – /www.escriturices.com.br