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“Malandro é malandro e mané é mané”, já ensina o dito popular. A criatividade para engendrar falcatruas, golpes e toda sorte de malandragem é inversamente proporcional ao ânimo de trabalhar, para parcela da população. Trabalhar dá trabalho e trabalhar cansa. Para algumas pessoas, o crime compensa, nem que seja por um determinado período.

Não sei vocês, mas eu já me cansei de bloquear os números das dezenas de ligações diárias, nas quais uma gravação me informa sobre uma transação suspeita na minha conta de um banco do qual nunca fui correntista. Em alguns dias, quando minha paciência está em níveis de segurança, somente desligo. Em outros, porém, quando uma fúria quase assassina me possui, exercito todo meu repertório de ofensas e palavrões, esperando que, por detrás da gravação, algum desocupado possa recebe-los.

Enquanto as já manjadas ligações de supostos sequestro de entes familiares, quase não convencem mais ninguém, outras novidades surgem diariamente, sobretudo através das vias eletrônicas e das redes sociais. Tem de tudo e para todo gosto. Ofertas de dinheiro fácil, através da herança de parentes distantes e moradores de algum reino perdido no Fajuquistão, empregos de meio período, realizados diretamente do sofá e com ganhos de seis dígitos, até pedidos de ajuda financeira feitos por galãs milionários a pessoas solitárias e crédulas. Tudo vale para se conseguir dinheiro fácil, ainda que ilícito ou imoral.

Mais do que nunca, é preciso ter atenção redobrada, pois enquanto as pessoas honestas têm os olhos cansados, os vagabundos, inescrupulosos, estão sempre alertas, no vigor de que não se preocupa com o outro. Empatia é sentimento para o espelho, tão somente. No fim das contas, ficou complicado confiar nas informações que recebemos ou que encontramos nos meios digitais.

Gosto de comprar pela internet, assumo, mas prefiro os sites que já conheço, que são reconhecidamente idôneos. Vez ou outra, quando preciso me aventurar por sites desconhecidos, socorro-me de outros serviços online, disponíveis para checagem de idoneidade. Quando uma amiga jovem e tecnológica, comprou o vestido de noiva pela internet, não me espantei ao saber que o vestido não chegou em tempo, mas sim ao constatar que, uma simples verificação teria mostrado que o site acumulava centenas de reclamações sobre atrasos ou extravio de mercadorias.

Recentemente, também, recebi uma notificação de que uma compra feita havia duas semanas, fora entregue. O curioso é que, na data e horário indicados na mensagem, não havia ninguém em casa. Tratei de verificar se o entregador não havia arremessado o embrulho na sacada ou se não fora entregue a algum vizinho, prática comum na nossa rua, como política de boa vizinhança. Ninguém, entretanto, havia recebido nada em meu nome.

Eu já havia comprado da mesma empresa e a experiência fora bem-sucedida. Assim, pensei, deveria ter ocorrido algum engano. Procurei SAC da empresa e enviei mensagem reportando o ocorrido, solicitando que me indicasse o nome do recebedor. Poucos minutos depois, fui informada de que “João” o fizera. A questão é que não há sequer um único Joao morador na nossa rua de quarteirão único.

A empresa, então, disse-me que abriria um procedimento interno para verificação. Um dia depois, curiosamente, a campainha toca e recebemos a encomenda, sem maiores explicações. Não sei se deram de “Migué” ou de João. Só sei que é cansativa a vigília para não ser Mané, nestes tempos de Malandragem perdoada. Só nos falta o Bolsa-Malandro, bônus para quem entregar para polícia o celular subtraído dos bobos que insistem em pagar suas próprias contas, esse hábito tão fora de moda quanto a vergonha-na-cara.

Cinthya Nunes é jornalista, advogada, professora universitária e vive na luta para não ser tão Mané – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo./www.escriturices.com.br